O mundo ficou menos florido e também menos combativo sem Rosa da Fonseca.
Já faz algumas semanas que Rosa nos deixou. Tive mais um sentimento de perda, afinal nestes tempos difíceis muitas pessoas caras e estimadas se foram. E Rosa representa um símbolo para todos os que sonham em ver a transformação deste Planeta em algo melhor. Afinal, Rosa era uma sonhadora. E sonhava muito. Fez da sua vida o percorrer de uma estrada, muitas vezes tortuosa, muita vezes prazerosa. Mas, das lutas no que acreditava, deu sentido especial à sua vida.
Conheci a Rosa pelo relato de meus pais, junto com meu saudoso Tio Lúcio Holanda (era meu primo, mas considerava como um tio). No tempo em que não havia internet, ficava eu garoto a escutar as conversas de gente grande. E assim escutei sobre a Rosa da Fonseca, filha do Manezinho e da Dona Rocilda, que tinha desafiado o Ministro da Educação Armando Falcão, com uma fala questionadora em um debate na televisão. Era um tempo em que o simples fato de discordar trazia consequencias, sérias consequencias. "Depois do que ela falou, achei que ela sairia presa ali mesmo", falava meu pai Dolor. Não saiu presa naquele dia, mas depois sofreu nas masmorras da execrável ditadura militar.
Depois escutei um diálogo entre Dona Rocilda e minha mãe Francina na minha casa. Eram grandes amigas junto com a Sra. Firmina. Elas conversavam sobre os tempos difíceis da prisão de Rosa. Foi ai que liguei as duas histórias. E passei a ficar curioso sobre a trajetória daquela personagem corajosa e desafiadora.
Alguns anos depois vim conhecer pessoalmente a "famosa" Rosa. Foi ai que me surpreendi. A Rosa que conheci neste dia era uma pessoa doce, educada, compassiva, que perguntava sobre a família, sobre as amigas. Não entendi como uma pessoa tão singela poderia ter a coragem de desafiar a ditadura militar. Em outro momento, presenciei uma outra Rosa chefiando um protesto na primeira Bienal do Livro em Fortaleza. Reivindicava melhorias na área educacional e acompanhava passo a passo o então governador Ciro Gomes (curiosamente estava calmo e não se exaltou em toda a manifestação), na sua visita aos stands da bienal.
Rosa foi catecista, vereadora, professora, lider sindical, ativista, mas principalmente sonhadora. Poderia-se não concordar com suas ideias, mas não se podia dizer que ela não vivia consoante o que acreditava.
Sempre que encontrava com Rosa tinha a certeza que ela juntava estas duas características marcantes: a doçura e a combatividade. E assim foi nosso último encontro foi na Bienal do Livro de Fortaleza. Nesta foto estamos segurando o relato de sua trajetória no livro de Érico Firmo. Vale a pena lê-lo, para conhecermos ainda mais as muitas Rosas.
Viva Rosa da Fonseca. Viva a quixadaense Rosa da Fonseca. Viva a doce Rosa da Fonseca. Viva a combativa Rosa da Fonseca. Viva a sonhadora Rosa da Fonseca.