A MOSCA AZUL
Roberto Matoso
Roberto Matoso
Consultor, economista e empresário
Ouvimos com freqüência expressões como “ele foi mordido pela mosca azul” ou “cuidado com a mosca azul”, curiosamente em uma época na qual um mosquito pode influenciar na sucessão presidencial do País.
Mas, afinal, o que quer dizer a expressão “mosca azul”? Duas características aparecem associadas ao termo: o apego ao poder e a vaidade. É como que ser “mordido pela mosca azul” levasse a um estado de embriaguez, de alucinação, em que a “vítima” perde a noção da realidade.
Machado de Assis possui um poema com o título de “A Mosca Azul” que versa sobre uma mosca com “asas de ouro e granada”, “refulgindo ao clarão do sol”. O próprio inseto dizia: “Eu sou a vida, eu sou a flor, das graças, o padrão da eterna meninice, e mais a glória, e mais o amor”. Ainda no poema, um pária (homem da mais baixa classe do sistema de castas da Índia) observando a beleza da referida mosca, ficou “deslembrado de tudo, sem comparar, nem refletir”. Passou a ver na mosca o próprio rosto e a sonhar com poder e riqueza. Julgando estar diante de um tesouro, aprisionou a mosca, levou-a para casa e dissecou-a, ocasionando a sua morte. No final, o poema diz que o pária ensandeceu e “que não sabe como perdeu a mosca azul”. O poema nos mostra que o homem viu na mosca o seu reflexo, projetando sua própria vaidade. O apego às posições, a utilização da estrutura do poder, e o autoritarismo das “castas”, não se restringem somente aos ambientes políticos. Está presente em inúmeras empresas e instituições. Há uma distorção quando o líder busca o cargo pelo cargo, ou se apega a ele como quem não consegue se ver sem ocupar uma posição similar ou superior. Julga-se senhor das vontades e das verdades. É preciso sabedoria para perceber que a liderança é resultado da confiança de um coletivo de pares (e não de párias). Precisamos ter noção que um líder é produto de um grupo de pessoas que possui uma visão comum, e que o cargo que ele ocupa é consentido por este mesmo grupo. Ou seja, o cargo não é do líder, é, paradoxalmente, dos liderados. Confúcio (551-479 a.C.) nos alerta para a transitoriedade do poder e da riqueza quando nos diz: “se tiverdes acesso à fama, comporta-te como se estivesse a receber um hóspede.” O líder precisa estar atento para não passar a “achar feio o que não é espelho”, como canta Caetano Veloso. Para impedir tal “tentação”, é preciso deixar constantemente os canais abertos, como quem abre sua própria janela para evitar o “mofo” e a “proliferação de larvas”.
A mosca azul não morde ninguém. Podemos ver na mosca azul as nossas próprias vaidades e, perdendo a noção de realidade, passamos a acreditar que somos donos dos cargos. Mas como floresce em um líder a síndrome da “mosca azul”?
Alguns pontos são comuns:
1. afastar-se do coletivo e da convivência com o contraditório;
2. cercar-se de um grupo restrito que diz o que o líder quer ouvir e não o que ele precisa ouvir;
3. perder a noção de que a hora da partida marca muito mais do que o triunfo da chegada;
4. esquecer que todo poder é efêmero, como disse Rubens Ricúpero.
Nesta virada de século, precisamos desenvolver líderes que tenham mais consistência que aparência, mais fundamentos que argumentos e que, com humildade e desapego, não deixem florescer em si a mosca azul.
Caro Cristiano,
ResponderExcluirDiferentemente de outras pessoas que conheci pelos caminhos da vida, não houve em sua existência nada que fizesse com que seu caráter e sua personalidade fosse posta em dúvida, nunca te serviste de outrem para alcanres o topo. Aprendemos na vida que todo mundo quer viver em cima da montanha, sem saber que a verdadeira conquista está na forma de se chegar ao pico. Lembre-se que sempre há um amanhã e a vida dá outra oportunidade para se fazer as COISAS DO BEM, alguns não entendem e não sabem que talvez não tenham outras chances
de dizer,OBRIGADO,DESCULPE-ME. Heraldo gomes de Freitas.