terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

DOM ADÉLIO TOMASIN: UM VISIONÁRIO E SEU LEGADO

Não vou abordar os últimos acontecimentos que já são do conhecimento público de nossa querida Quixadá e de todo nosso Estado. Até por que nada do que aconteceu recentemente desmerece ou minimamente macula a trajetória de Dom Adelio. Pelo contrário, mostra o valor de um homem que veio ao mundo e não se conteve em fazer o óbvio, o normal, o comum. A ousadia de sua trajetória está marcada pela busca de um mundo melhor e com mais oportunidades,

Natural de Nontegaldella, província de Vicenza (Itália), onde nasceu em 27 de abril de 1930, Dom Adelio cursou Teologia e Filosofia. Em seu percurso religioso trilhou os caminhos do Uruguai, Rio Grande do Sul, Londres, Pamplona (Espanha), Nigéria e finalmente encontrou a "Terra dos Monólitos". Aqui chegou em 29 de maio de 1988. Era o início de uma grande paixão. O apego a Quixadá é explícito e implícito em todos os seus atos. Um homem que percorreu o mundo veio se apegar a terra dos "tabuleiros mansos", como dizia Jáder de Carvalho. Não foi o primeiro nem será o último dos visitantes que chega a Quixadá e se apaixona por seu povo; por suas belezas naturais; pelo vento "Aracati", que chega no final da tarde, como a nos dizer: depois do trabalho vem o descanso e o prazer.

Poucos dias após chegar e tomar posse como Bispo Diocesano, época em que ainda buscava conhecer nossa cidade, uma idéia lhe surgiu como se fosse uma mensagem divina. Ele olhou para uma montanha e disse para si mesmo: "Ali construirei um espaço de oração e contemplação a Deus". Chamou um Padre, após celebrar a missa na Catedral , apontou para um dos monólitos e lhe disse: "Descubra quem é o dono daquela montanha, que iremos comprar". Assim foi feito. De um sonho, de uma idealização para muitos utópica, surgiu o Santuário Nossa Senhora Rainha do Sertão. Espaço de oração e de rara beleza. Só por essa obra, Dom Adelio já deveria ser reverenciado em gerações e gerações. Incansável, não parou por aí.

Idealizou a implantação de uma emissora de rádio que levasse ao povo em geral a mensagem da Igreja Católica. Em pouco tempo a Rádio Cultura foi implantada. Preocupado com atenção às crianças e adolescentes, construiu e instalou a Creche Rainha da Paz, no bairro carente do Monte Alegre. Novamente não ficou satisfeito e resolveu sonhar novamente.

Vendo a situação deprimente das ações de saúde, iniciou a gestação de outro projeto chamado de megalomaníaco por alguns. Poucos meses depois, com a contribuição de muitos colaboradores do meio privado e público, a megalomania saiu do papel e Quixadá viu nascer uma referência para a vida de muitas crianças, de muitos homens e mulheres: o Hospital e Maternidade Jesus, Maria e José. Depois veio a luta para implantação da UTI neo natal, do mamógrafo, da Casa da Gestante, e de tantas e tantas realizações que fizeram daquele equipamento um exemplo para a saúde pública.

Dom Adelio ainda não estava satisfeito. Tentou e pressionou a todos os governantes municipais e estaduais para a implantação de indústrias em Quixadá. Defendia a implantação de um Distrito Industrial. Este sonho ele não conseguiu realizar. Logo depois já se juntava na frente pela implantação de novos cursos universitários na UECE. Participou de diversas manifestações e buscou junto ao Reitor e Governador a instalação do Curso de Enfermagem. Novamente não conseguiu o sucesso almejado.

Entretanto, foi daí que lhe veio a idealização de novo sonho: a criação da Faculdade Católica de Quixadá. Uma utopia, novamente disseram. Curso de odontologia, só eu vendo para crer, falaram incrédulos. O tempo avançou e hoje toda a região sabe da importância econômica, educacional e política que adveio para Quixadá com sua efetivação. O impacto para a vida da cidade foi forte. Não há quem negue tal importância. Cada vez que visito a Faculdade Católica encontro algo diferente sendo realizado ou construído. A Faculdade é hoje um patrimônio para todos os quixadaenses se orgulharem.

O incansável ainda não estava satisfeito. Novos sonhos como o Curso de Medicina e o Centro de Cardiologia estavam sendo gestados. Espero que estes projetos não fiquem pelo meio do caminho pois muito já foi caminhado graças a seu espírito empreendedor e idealista.

Há quem não goste do seu jeito. Dizem que ele é muito duro. Talvez estes não entendessem que Dom Adélio é um daqueles homens que surgem de tempos em tempos. Homens do tipo raro que vêm ao mundo com o propósito de modificar o status quo. De transformá-lo para melhor. E eles precisam ser firmes nos seus propósitos, pois sabem aonde querem chegar.

Não tenho muito contato com Dom Adelio. Foram poucos momentos em que tive a honra de sua presença. Entretanto, sei indubitavelmente do seu valor para as mudanças que aconteceram em Quixadá. Sua presença moldou o desenvolvimento de nossa cidade. Sua contribuição ultrapassa a geração atual. Ela estará presente  nos corações e nos caminhos futuros da "Terra do Monólitos". Muito obrigado por tudo que realizou. Deus e o nosso povo agradecem.

2 comentários:

  1. Cristiano
    Parabéns pelo artigo lúcido, isento e competente. Na horas que as paixões dominam setores da população, onde oportunistas tentam tirar proveito dessa situação dramática e de consequências imprevisíveis, você é a nota do eqúilíbrio que só as pessoas amadurecidas logram possuir.
    Fiquei confortado e comovido com seus escritos. Prossiga assim meu querido amigo. A sua missão é, entre outras, fazer justiça, de maneira serena e imparcial.
    Ficarei com saudades de D. Adélio. Muitas saudades.
    Prof. Gilberto Telmo (o blog não está permitindo minha identificação. Eu não sou anônimo)

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  2. Cristiano, gostaria de parabenizar você pelo excelente comentário direcionado ao anjo que veio nos dar um pouco de conforto e esperança. Nós que somos Quixadaenses de fato devemos muitos agradecimentos a esse homem. Abraço a você e ao professor Telmo que também é uma figura de grande importânica para nós.

    Cândido Jorge

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