terça-feira, 16 de junho de 2015

CARNAVAIS, MALANDROS E HERÓIS / ROBERTO DA MATTA

Dentro do meu périplo no mestrado, estou no desafio de ler os clássicos para compreender o Brasil. Acabei de ler o livro mais famoso de Roberto da Matta: Carnavais, malandros e heróis. A partir da análise de nossos principais eventos busca-se entender este nosso país, tão cheio de nuances, preconceitos, criatividades e paixões. Aborda-se os carnavais, as paradas, a procissões; dentro de um viés para compreender a hierarquia, a desigualdade, e é claro nossa cultura. O "sabe com quem está falando", tão presente em nosso cotidiano, recebe uma atenção especial. O lado malandro do brasileiro é abordado de forma diferenciada. Na verdade, o autor nos coloca para pensar sobre o significado do que está ao nosso redor. A ver e guardar na prateleira para sempre dar uma olhadinha. 

SABEDORIA POR FERNANDO PESSOA

"Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa de por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham razão. Não era que um via uma coisa e outro outra, ou que um via um lado das coisas e outro um outro lado diferente. Não: cada um via as coisas exatamente como se haviam passado, cada um as via com um critério idêntico ao do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada um, portanto, tinha razão. Fiquei confuso desta dupla existência da verdade."

Fernando Pessoa

segunda-feira, 8 de junho de 2015

SABEDORIA POR GILBERTO FREYRE

"Temos no Brasil dois modos de colocar pronomes, enquanto o português só admite um - o "modo duro e imperativo": diga-me, faça-me, espere-me. Sem desprezarmos o modo português, criamos um novo, inteiramente nosso, caracteristicamente brasileiro: me diga, me faça, me espere. Modo bom, doce, de pedido. E servimo-nos dos dois. Ora, esses modos antagônicos de expressão, conforme necessidade de mando ou cerimônia, por um lado, e de intimidade ou de súplica, por outro, parecem-nos bem típicos das relações psicológicas que se desenvolveram através de nossa formação patrimonial entre os senhores e os escravos: entre as sinhá-moças e as mucamas; entre os brancos e os pretos. "Faça-me, é o senhor falando; o pai; o patriarca; "me dê", é o escravo, a mulher, o filho, a mucama."

Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, p. 418.