segunda-feira, 8 de junho de 2015

SABEDORIA POR GILBERTO FREYRE

"Temos no Brasil dois modos de colocar pronomes, enquanto o português só admite um - o "modo duro e imperativo": diga-me, faça-me, espere-me. Sem desprezarmos o modo português, criamos um novo, inteiramente nosso, caracteristicamente brasileiro: me diga, me faça, me espere. Modo bom, doce, de pedido. E servimo-nos dos dois. Ora, esses modos antagônicos de expressão, conforme necessidade de mando ou cerimônia, por um lado, e de intimidade ou de súplica, por outro, parecem-nos bem típicos das relações psicológicas que se desenvolveram através de nossa formação patrimonial entre os senhores e os escravos: entre as sinhá-moças e as mucamas; entre os brancos e os pretos. "Faça-me, é o senhor falando; o pai; o patriarca; "me dê", é o escravo, a mulher, o filho, a mucama."

Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, p. 418.

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