quarta-feira, 23 de setembro de 2015

FUNDAÇÃO CULTURAL DE QUIXADÁ - ALGUMAS REFLEXÕES


Tenho acompanhado com pesar a via crucis por que passa a cidade de Quixadá com o descalabro administrativo reinante. Não obstante as notícias cotidianas de atraso no salário de servidores, descontos de consignados não repassados com prejuízos aos funcionários que ficaram com nome negativado; de problemas graves na saúde; na limpeza urbana; entre outros tantos. Agora chega o relato da extinção da Fundação Cultural de Quixadá. 

Na verdade, extinguir o órgão de cultural municipal pouco vai acrescentar na solução dos graves problemas financeiros do município. Apenas os vencimentos do secretário e o contrato de contabilidade respectivo não se constitui de valor considerável. E seria esta talvez a única economia.

Entretanto, o maior prejuízo seria para a cultura da cidade como um todo, pois se perderia seu órgão difusor e gestor. Fui de uma época em que a Secretaria de Cultura, nesta mesma justificativa, foi extinta. Sabem o que aconteceu? Mesmo as pequenas ações culturais se dissiparam. Nada mais aconteceu na área cultural. 

Em 1992, com a vitória do PT nas eleições, participei de grupo de trabalho que fez uma análise do setor esportivo e cultural. A conclusão foi que seria necessário a recriação da Secretaria de Cultura. E assim foi recriada com a denominação de Secretaria de Cultura, Turismo e Desporto. Mesmo com todas as dificuldades aconteceram frutos, não do jeito que almejávamos, pois sempre faltaram recursos para os muitos planos e aspirações do setor. Relembro alguns no período de 1993 a 1996, quando fui secretário: reedição do livro "Eu sou o Cego Aderaldo", renovação do acervo da Biblioteca Pública, aquisição de novos equipamentos e fardamentos para a Banda de Música de Quixadá, realização do Festival de Músicas Infantis Canta Criança, realização do Mapeamento Cultural do Município, reforma do Museu Histórico de Quixadá, realização da Caravana da Cultura nos bairros e distritos de Quixadá (exposições, apresentação de bonequeiros, seresteiros, cantadores de viola, da banda de música, etc), entre muitas outras atividades, oficinas e cursos realizados. 

Havia a demanda de termos um espaço da cultura da cidade. Não veio rápido. Foram anos de espera, mas chegou em grande estilo. E veio praticamente junto com a transformação da Secretaria de Cultura em uma Fundação. Recordo-me com carinho e nostalgia a inauguração da Praça da Cultura, com o prédio onde funciona a Fundação Cultural e a recuperação do Chalé da Pedra. Foi uma festa inesquecível para os amantes da cultura e de Quixadá. 

Uma área degradada tornava-se o entreposto cultural da cidade. A Banda Contato Imediato com o vocal de Guaracy Freitas e Neto Inácio abriu a parte musical. Depois veio Belchior em brilhante apresentação saudando os novos tempos para a cultura. Nos dias seguintes aquele espaço recebeu o evento denominado "Quixadá, Arte e Cultura". Bandas de músicas, corais, seresteiros, cantadores de viola, teatro, grupos de rock, exposições de arte e oficinas abrilhantaram os dias e as noites quixadaenses.

A Fundação Cultural não ficou apenas na promoção de eventos. Se expandiu na formação de talentos artísticos. Moldou com certeza uma nova geração de jovens artistas. 

Este espaço, construído sob as mãos, a alma e os pensamentos de tanta gente, não pode perder seu órgão gestor. 

A alegativa de que hoje não tem grandes atividades e que poderia ser extinta a troco da economia financeira é fruto da miopia administrativa e cultural. 

A cidade precisa da Fundação Cultural. Não pode perder esta identidade. Com mobilização, sua extinção vai ser esquecida para nunca mais ser lembrada. Afinal, os governantes passam, mas a cidade permanece. E cidade é cultura, é arte, é povo. E o povo não vai ser suplantado por burocratas e incompetentes.

Viva a cultura. Viva a Fundação Cultural de Quixadá. 

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