sexta-feira, 21 de maio de 2010

CINE SÃO LUIZ - ETERNO CINEMA

        
Vi este artigo da advogada ambientalista Nayanna Freitas sobre o Cine São Luiz e me vi também na infância quando fui a algumas sessões acompanhado de meu pai. Era esplêndido estar presente naquele espaço. Que bela nostalgia. Abaixo segue o artigo na integra.

MINHA INFÂNCIA E O SÃO LUIZ

Nayanna Freitas

Esta é minha homenagem ao Cine São Luiz, localizado na Praça do Ferreira, em Fortaleza. Inaugurado em 1958, teve como película de estréia "Anastácia, a princesa esquecida".

Lembro-me, como fosse hoje, o impacto que as escadas de mármore carrara do cinema, bem como os seus lustres gigantescos de cristal (importados da antiga Tchecoslováquia), geraram na minha cabeçinha infantil, quando lá estive pela primeira vez. Afinal, luxo de igual proporção, eu só havia visto em filme! Mais precisamente na sala dos Von Trap, de a Noviça Rebelde...

Pois bem, naquele dia, a película escolhida para assistirmos foi E. T, O Extraterrestre. Apesar da tenra idade, me recordo de o quanto estava lotado o cinema, que se diga de passagem, tem 1.500 lugares. Mesmo assim tive que sentar no colo da minha mãe, pois não havia cadeiras suficientes.

Devidamente (ou não) acomodadadas, a luz do cinema apagou. De repente, aquela tela enorme mostrava aos expectadores imagens que nem em sonho me tinham passado pela mente (bem, pelo menos aos cinco, eu nunca tinha ouvido falar E.Ts. e nem de viagens espaciais). Me emocionei com as cenas que mostravam a pureza daquele bichinho; chorei com o tratamento cruel que os humanos lhe dispensaram apenas por ser diferente; e me tranqüilizei com a amizade genuina entre o extraterrestre e as crianças. No final, até bicicletas passando pela lua vi, extasiada.

Hummm....Leram bem? Talvez não tenha expressado bem a emoção. Naquele dia, crianças voaram montadas em bicicletas, e passaram pela lua, que estava cheia e toda prateada...

E o que eu senti diante disso? Resposta: um nó de beleza na cabeça!

Uma grande estréia na sétima arte, com uma obra cinematográfica encantadora para uma criança. E um plus: A experiência aconteceu no majestoso Cine São Luiz.

Hoje em dia, não existem outros cinemas de rua em Fortaleza, somente em Shoppings. Na medida em que a cidade foi crescendo, as pessoas foram deixando de os frequentar. A maioria daquelas salas eram localizadas no Centro e a burguesia que sempre comprava os bilhetes migrou para bairros mais distantes e da moda. Por isso, o próprio São Luiz, apesar de tombado, passou por um considerável risco de ser convertido em templo de uma Igreja bem conhecida, o que me deu arrepios na época.

Mas nada disso ocorreu, pois a Fecomércio (Federação do Comércio do Estado do Ceará) o arrendou e hoje ali funciona Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro. Não passam filmes como antes e o lugar virou meio que um espaço para grandes eventos, como festivais de cinema (vide Festival Cine Ceará).

A última vez que estive lá, valeu a pena: uma grande apresentação de Ariano Suassuna, contando seus causos...

Como disse, apesar de não projetarem de forma assídua obras cinematográficas no São Luiz, sempre ficará a lembrança da infância, quando sentia estar num cinema/castelo, tamanha a sua grandiosidade. Sem esquecer das gargalhadas, do suspense e do choro emocionado que as películas provocavam.

Ops! E como deixar de falar dos negativos que vez por outra queimavam e por isso, havia aquela confusão na platéia? "Olha o filme aí projetista!", gritavam.... E tudo que lhes foi contado era sempre regado a muita pipoca (cujo cheiro espalhava-se pela sala) e jujuba.

Aaaahhh, como tive sorte! Não tem tecnologia digital ou 3d que se compare a isso!

Um comentário:

  1. Que bom que gostou Cristiano. E agradeço desde já a reprodução, pois sei que seu blog é bastante lido. Assim, você colabora com o nosso dever perante as novas gerações: perpetuar a importância cultural e sentimental do nosso Cine São Luiz para todos os alencarinos. Quanto as antigas gerações, fica o resgate da memórias felizes que aconteceram naquele espaço, assim como o dever de cobrar a sua conservação (que aliás, tb compete aos jovens tb, não é?).

    Um abraço.

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